Um Niemeyer É Sempre Um Niemeyer
A Niemeyer Is Always A Niemeyer

Niemeyer a desenhar | Niemeyer drawing (2001)

Aquele abraço!

Carlos Oliveira Santos

(Introdução)

A humanidade tem a obrigação de comemorar datas que bem evoquem a sua livre capacidade de criar. 5 de Dezembro de 2022 é uma delas. Há dez anos morreu um dos mais impressionantes criadores de arquitectura de todos os tempos. Esta é a história de uma das suas criações, que teve Portugal por destino. Em 1966, Oscar Niemeyer recebia um convite para conceber um conjunto de edifícios para a cidade do Funchal, destinados a serem um hotel, um casino e um auditório.

Em meados dos anos 80, quando subi a colina da Vigia e me deparei com o conjunto arquitectónico que ali tinha sido, entretanto, erguido, fiquei de tal modo surpreendido que não pude resistir ao impulso de lhe conhecer a vida, tal a grandeza, originalidade e emoção. Em 2001, seria publicada a minha história sobre O Nosso Niemeyer, com fotografias de António Moutinho e design gráfico de João Machado. Seis anos depois, quando Niemeyer fez cem anos, esse livro seria reeditado, mantendo-se como um caso isolado de edição portuguesa dedicada ao grande arquitecto brasileiro. Agora, justifica-se uma nova evocação de Niemeyer e uma revisitação dessa história, a que se juntaram os contributos de Álvaro Siza, com o seu desenho (feito inicialmente para o livro Olhar Niemeyer, em 2009); de Santiago Calatrava, com um inédito poema visual, como prefácio; de Paula Klien, com a sua magnífica fotografia de Niemeyer, a última que lhe foi feita antes de sua morte; e de Paulo Niemeyer, com as suas impressivas memórias, nelas incluídos vários desenhos de Oscar e fotografias de algumas das suas obras; bem como os desenhos e as fotografias de André Faria e de Raphael Iruzun Martins. André foi o designer português de Olhar Niemeyer (2009) e Raphael, um anglo-brasileiro, foi recebido por Niemeyer quando tinha 15 anos. Hoje, é um arquitecto sénior, em Inglaterra. Zaha Hadid, grande amiga de Oscar, acedeu a participar nesta edição, alguns meses antes de falecer. Infelizmente, não pôde concluir esse seu contributo. O meu agradecimento a todos.

Um aspecto importante da presente edição é o da incorporação nela do que resultou do estudo do acervo do falecido arquitecto Alfredo Viana de Lima, doado por sua família à Faculdade de Arquitectura do Porto e disponibilizado gradualmente, para consulta pública, entre 2006 e 2019. É, sem dúvida, o maior e um precioso conjunto de documentos relacionados com a temática deste livro, vindo esclarecê-la ainda mais.

De resto, evidentemente, Oscar é o centro dos fios desta história,
mas não são poucas as figuras marcantes que acompanharam esta jornada: a família Barreto, no seu enorme rasgo empreendedor; o referido arquitecto Viana de Lima, amigo de Niemeyer e por ele mesmo escolhido para desenvolver o projecto; o designer Daciano da Costa, que teria aqui uma parte importante da sua grande obra; os engenheiros José Lampreia e João Madeira Costa; Dionísio Pestana, na continuidade da história deste empreendimento, decerto tão difícil de gerir e de preservar; sem esquecer as obras de arte de Fernando Conduto, José Rodrigues, Maria Velez, António Charrua, Armando Alves e Sá Nogueira. Todos pessoas muito significativas, ainda que aquele tempo inicial, em Portugal, fosse o da claustrofobia salazarista, medíocre e castradora. Foi essa, aliás, para mim, confesso, uma das maiores motivações para investigar e narrar esta história: a de repisar que, «mesmo na noite mais triste, em tempo de servidão», é sempre possível fugir à mesquinhez e à ignomínia, que tanto têm tendência para invadir o nosso país – pestes que, aliás, não deixaram de «empestar» esta temática, depois daquela edição de 2001, como agora abordo no epílogo desta. Enfim, no mínimo, que tudo isto seja inspirador para novos criadores e construtores, seja qual for a sua área. Afinal de contas, como queria Einstein, a criatividade é contagiosa.

E… Oscar Niemeyer, onde e como quer que estejais, aquele abraço!

A great big hug!

Carlos Oliveira Santos

(Introduction)

Humanity must preserve the dates that well evoke its free aptitude to create. December 5, 2022 is one of them. Ten years ago, one of the most impressive architects of all time died. This is the story of one of his creations, whose destiny was Portugal. In 1966, Oscar Niemeyer received an invitation to design a set of buildings for the city of Funchal, intended to be a hotel, a casino, and an auditorium.

In the mid-1980s, when I climbed Vigia hill and saw the architectural complex that had been built there, I was so surprised that I could not resist the impulse to get to know its life, such was its grandeur, originality, and emotion. My Our Niemeyer would be published in 2001, with photographs by António Moutinho and graphic design by João Machado. Six years later, when Niemeyer has reached the age of 100 years, that book would be republished, remaining a single case of a
Portuguese edition dedicated to the great Brazilian architect. Now, a new tribute to Niemeyer and a revisit to this story are justified. Outstanding references have joined this edition: Álvaro Siza with his drawing (initially made for the book Look at Niemeyer, 2009); and Santiago Calatrava with his visual poem as a preface. Paulo Niemeyer sent us his impressive memories about his great-grandfather, including several Oscar’s drawings; and Paula Klien, with her photograph of
Niemeyer, the last one has taken of him before his death; as well as drawings and photographs by André Faria and Raphael Iruzun Martins. André was the Portuguese designer of Look at Niemeyer (2009), and Raphael, an Anglo-Brazilian, was welcomed by Niemeyer when he was 15 years old. Today, he is a senior architect in an important British firm. Zaha Hadid, Oscar’s great friend, agreed to participate in this edition some months before she passed away. Unfortunately, she was unable to complete her contribution. My thanks to everyone. An important aspect of this edition is the inclusion of what resulted
from the study of the late architect Alfredo Viana de Lima’s archive donated by his family to the Faculty of Architecture of Porto, and gradually was made available for public consultation between 2006 and 2019. It is undoubtedly the largest and a precious set of documents related to the theme of this book, coming to clarify it even more.

Oscar is at the center of this story, but there are other outstanding figures involved in this journey: the Barreto family, with their enormous entrepreneurial trait; the architect Alfredo Viana de Lima, a Niemeyer’s friend chosen by himself to develop the project; the designer Daciano da Costa, who would have here an essential part of his great work; the engineers José Lampreia and João Madeira Costa; and Dionísio Pestana, continuing the story of these buildings, certainly so difficult to manage and preserve; not forgetting the works of art by Fernando Conduto, José Rodrigues, Maria Velez, António Charrua, Armando Alves, and Sá Nogueira. All of them are remarkable people, although, at the beginning of this story, Portugal was under Salazar’s dictatorship, a mediocre and castrating claustrophobia. This was, in fact, for me, one of the greatest motivations for investigating and narrating this story: to reaffirm that «even on the saddest night, in time of servitude», it is always possible to escape the pettiness and ignominy, which have so much tendency to invade our country’s history – pests that, by the way, did not cease
to «stink» this story after that 2001 edition – as I now address in the epilogue of the present one. In short, at the very least that all of this could be inspiring for new creators and builders, whatever their field. After all, as Einstein wanted, creativity is contagious.

And… Oscar Niemeyer, wherever and however you are, that big hug to you!